quarta-feira, 24 de junho de 2009

Texto 06 - "As chinelas do desnaturado"

O diálogo original desta cena foi criado por Diego Albuck em 20 de maio de 2009, reunindo personagens que também foram utilizados por outros autores: a senhora de meia-idade (aqui chamada de Dona Rosa), o filho dela (Alberto) e a menina (Manuela). Na versão condensada que foi apresentada no dia 15/06, os atores Hermínia Mendes (Dona Rosa) e Tatto Medinni (Alberto) materializaram a naturalidade das falas e o tempo dilatado de um dia longo e sem novidades, deixando entrever nas entrelinhas as relações, fragilidades e até o passado dos personagens. A menina Manoela não aparece nesta versão mais curta (alguns textos foram reduzidos para ficar na mesma média de tempo das demais cenas), mas aqui apresentamos as duas versões.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Versão Apresentada

D. ROSA - Albeeeeeerto! Albeeeeeerto!
ALBERTO - Oi mãe. O que é? Não está vendo que eu estou assistindo a TV?
D. ROSA - Que TV que nada! Pegue os doces da menina!
ALBERTO - A senhora fica babando essa menina só porque ela tem esse sotaque estranho.
D. ROSA - Não estou babando ninguém! Tome tenência, homem. Você sabe muito bem que gosto muito de Manuela porque ela, com essa idade, já fala alemão e você, que é filho de alemão, não sabe falar um oi.
ALBERTO - Papai nunca teve tempo de me ensinar, também, eu nem queria mesmo. Aquela língua lá dele é que era difícil para caramba.
D.ROSA - Sim, deixe de resmungar e pegue os suspiros da menina.
ALBERTO - Tá bom!
D. ROSA - Tá bom, o que? Que filho desnaturado é esse? Mal educado! E porque está descalço? Cadê as chinelas que eu comprei?

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Versão Integral

MANUELA – Olá, Dona Rosa. A senhora tem doces hoje?
D. ROSA – O que menina?
MANUELA – Doces, Dona Rosa.
D. ROSA – Ah. Tenho sim. Tenho de tudo o que é jeito: bolo, suspiros, paçoca, pé-de-moleque, algodão doce, chocolate, trufas...
MANUELA – Calma Dona Rosa, eu ficarei com os suspiros.
D. ROSA – Peraí que eu vou pegá-los para você. Albeeeeeerto! Albeeeeeerto!
ALBERTO – Oi mãe. O que é? Não está vendo que eu estou assistindo a TV?
D. ROSA – Que TV que nada! Pegue os doces da menina!
ALBERTO – A senhora baba essa menina só porque ela tem esse sotaque estranho.
D. ROSA – Babá? E eu sou babá de ninguém? Tome tenência, homem. Voce sabe muito bem que gosto muito de Manuela porque ela, com essa idade, já fala alemão e você, que é filho de alemão, não sabe falar um oi.
ALBERTO – Papai nunca teve tempo de me ensinar, também, eu nem queria mesmo. Aquela língua lá dele é que era difícil para caramba.
D.ROSA – Sim, deixe de resmungar e pegue os suspiros da menina.
ALBERTO – Tá bom! Tá bom, pegarei. Olhe aqui, tome.
MANUELA – (SORRINDO) Brigado seu Alberto e (EM ALEMÃO) que Deus te abençõe.
ALBERTO – O que?
MANUELA – Deus te abençõe.
ALBERTO – Ah, tá bom, e pra tu também.
D. ROSA – Que filho desnaturado é esse e mal educado e porque está descalço? Cadê as legítimas que eu comprei?
ALBERTO – As havaianas?
D.ROSA – As legítimas. Fiz o maior esforço para comprá-las e só o vejo descalço.
MANUELA – Dona Rosa, cadê o meu troco?
D.ROSA – É o que?
MANUELA – O troco. A senhora falta me dar 10 centavos.
D.ROSA – Ah, está certo. É porque estou sem trocados agora. Mas, olha, amanhã você passa aqui que darei a você.

Nenhum comentário:

Postar um comentário