quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Os episódios e a criação em grupo

A discussão mais quente deste semestre teve a ver com a idéia de "liberdade de criação". Antes de começarem os estudos e práticas envolvendo o melodrama - e, especificamente, a criação do universo da minissérie - os participantes do GE de Dramaturgia eram estimulados a dar vazão ilimitada às suas idéias, usando para isso apenas as indicações de gênero e linguagem dramatúrgica. Recebiam provocações e as desenvolviam como queriam e, ainda que não se atingissem os objetivos de escrever com inspiração neste ou naquele gênero, todo resultado sempre era enfatizado como algo válido em seu contexto de criação. O trabalho com o melodrama mudou essa prática. O grupo teve dificuldades em lidar com o modo de criar exigido pelo novo gênero, uma dinâmica que, a primeira vista, parecia sufocar a liberdade do autor. Acontece que, no melodrama, o gosto do público é a referência prioritária e isso pode mesmo dar a impressão de que o livre-arbítrio do autor foi domado ou até morto. Estamos nos dominios de um gênero cujas histórias são construídas visando prender a atenção do espectador. Para isso, valem todos os recursos possíveis: personagens cativantes como protagonistas; desdobramento da ação levando a sucessivos confrontos e desafios; circunstâncias inusitadas, cenários exóticos, mistérios, surpresas. O formato de minissérie adotado no GED também introduz um outro condicionante que não esteve presente até aqui nas atividades dos grupos de estudos: para que haja unidade na criação dos vários autores envolvidos, deve ser definido um universo ficcional de referência, com leis próprias, personagens e possibilidades de relação entre eles. Não se trata mais de um simples "mote" ou provocação. Nesse contexto de minissérie melodramática, cada passo dos autores precisa considerar essas referências. E aqui fica claro que a liberdade de criação não foi necessariamente abolida. Ao contrário, será provocada a ampliar seus potenciais. Assim, essa liberdade deverá ser interpretada de maneira distinta do que se fazia nos exercícios com outros gêneros, histórias autocentradas cujo único compromisso era com o prazer do autor. O desafio agora é um estranho e instigante paradoxo: ser livre a partir de limitações, fazer dos limites uma fonte infinita de idéias, provocações e prazer. O autor de melodramas terá que aprender a se deixar surpreender, se quiser que o público se surpreenda com suas obras.







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